Rodela de Chinelo de Dedo
Faz parte da Reserva Técnica do acervo no Museu do Alto Sertão da Bahia. Identificando pela Ficha de Cadastro de Bem Móvel, obtido no sítio Lajedo I, a partir do Projeto de Gestão do Patrimônio Arqueológico Parques Eólicos Renova Energia (LER 2010 e LER 2011). Proveniência: Coe. Sup. 10; número Individual: 15.
As rodinhas, feitas com chinelos de borracha descartados, podem contar sobre as práticas de reaproveitamento e subterfúgio de comunidades agrícolas do semiárido nordestino e as lógicas e valores que norteiam essas práticas. Além disso, as rodas podem contar sobre a história e a evolução dessas práticas ao longo do tempo, bem como as relações sociais e culturais envolvidas na produção e no uso desses objetos, pois a produção de rodinhas desafia como a modernidade capitalista dita a relação entre pessoas e coisas por meio da valoração simbólica da mercadoria-chinelo em rodinha, permitindo que essas pessoas expressem suas próprias lógicas e valores em relação aos objetos e ao mundo material (SOUZA, 2021).
Por:
Maxsuel da Silva Marques Ferreira, Graduando do 8º semestre do curso de Licenciatura em História na UNEB - Campus VI. Originário do município de Bom Jesus da Lapa e reside atualmente em Caetité.
O objeto investigado trata-se, em poucas palavras, de uma rodela de chinelo de dedo (imagem 1) que faz parte do acervo da reserva técnica do Museu do Alto Sertão da Bahia, proveniente do Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico Parques Eólicos Renova Energia (LER 2010 e 2011) – Complexo eólico Alto Sertão II – municípios de Caetité, Igaporã, Guanambi, Licínio de Almeida e Pindaí, Estado da Bahia. Os dados apresentados a seguir foram obtidos através dos Relatórios Finais, volumes I e II, coordenados pelos arqueólogos Dr. Paulo Eduardo Zanettini e Dra. Camila Azevedo de Moraes Wichers, em 2013 e 2018. Mais especificamente, o artefato foi encontrado no município de Guanambi, no sítio: Lajedo I, proveniente da coleta de superfície em 11/12/2020, com número Individual 15. O Sítio Arqueológico Lajedo I, localizado no município de Guanambi, na Bahia, é um local de grande importância histórica e cultural. Este sítio é composto por vestígios arqueológicos móveis, suportes, feições, edificações e outras evidências vinculadas a um contexto pré-colonial, bem como a distintas ocupações históricas nesse espaço. A área de dispersão máxima de vestígios arqueológicos é de aproximadamente 60.435,25 m².
Os principais tipos de artefatos líticos encontrados no Sítio Lajedo I são fragmentos de artefatos líticos (lascas unipolares), cuja matéria-prima predominante é o quartzo hialino, leitoso e o silexito. Esses vestígios materiais caracterizam o sítio como multicomponencial, marcado por uma ocupação pré-colonial. Existe uma relação entre a ocupação pré-colonial e a formação do Bairro Rural Sítio. Um segundo momento de ocupação do Sítio Lajedo I deve ser entendido como reflexo do processo de formação da localidade denominada Bairro Rural Sítio, datado possivelmente do final do século XIX e início do XX. Assim, essa etapa mais recente de ocupação expõe elementos associados a unidades domésticas de habitação, caracterizadas pela presença de vestígios de suas estruturas, muros de arrimo/contenção, suporte lítico para britagem manual, áreas de refugo, espaços comuns voltados para atividades comunitárias cotidianas, tais como lavagem de roupa e atividades agrícolas e cotidianas. O acesso ao sítio é feito pela rodovia BR-030, sentido Caetité-Guanambi e, posteriormente, por estrada de chão batido que leva às comunidades Tanquinho, Salinas e Sítio. O sítio arqueológico Lajedo I está localizado na coordenada central UTM 23L 751189 8438062, distante 43 metros do traçado projetado para o acesso interno que leva ao parque Morrão.
FOTO 01: Arquivo PNG: Rodinha 3 Identificação: Imagem 3 – Rodela de Chinelo de Borracha (Fonte: Ficha de cadastro de bem móvel, MASB); FOTO 02: Arquivo PNG: Rodinha 1 Identificação: Imagem 1 –Rodinha de chinelo de borracha (acervo técnico do MASB); FOTO 03: Arquivo PNG: Rodinha 2 Identificação: Imagem 2 – dados do artefato (acervo técnico do MASB).
Motivo da escolha do sítio:
O objeto foi escolhido pelo seu forte vínculo com a tese desenvolvida por Rafael de Souza e Abreu, doutor em arqueologia pela USP, em Ambiente e Sociedade pela UNICAMP, e especialista em Gestão Ambiental pelo SENAC. A mencionada tese, intitulada “Um Lugar na Caatinga: consumo, mobilidade e paisagem no semiárido do Nordeste brasileiro”, apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em Meio Ambiente e Sociedade, na área de Aspectos Sociais de Sustentabilidade e Conservação, apareceu, em parte, na disciplina de Cultura Documental e Patrimonial II, do curso de Licenciatura em História no Departamento de Ciências Humanas, campus VI, da Universidade do Estado da Bahia, através do artigo “Rodinhas de Chinelo ao Combate, veiculado na Revista de Arqueologia”, volume 34, número 2, em 2021.
Este contato, em primeiro momento, trouxe à memória um dos objetos que integra a reserva técnica do acervo do Museu do Alto Sertão da Bahia, conciliando tal objeto à pesquisa de Abreu, com a reutilização material no campesinato do sertão nordestino, ressignificando práticas modernas de produção e consumo capitalista em cultura material criativa que subverte paradigmas. Perpassando a temática da arqueologia do lixo, o objeto instiga, uma vez que abre espaço para estudar a reutilização criativa e a ressignificação de práticas modernas de produção e consumo capitalista em cultura material. Queremos mostrar como está rodinha de chinelo de borracha pode ser vista como um artefato numa coleção, em vez de ser descartada como lixo. Através da análise desta peça, pretende-se levantar a discussão sobre o conceito de lixo para a arqueologia e como a reutilização criativa esteve e está presente na conjuntura local.
Saiba mais:
Maxsuel da Silva Marques Ferreira:
Rodinhas de Resiliência: A Arqueologia do Cotidiano e a Reutilização Criativa
no Semiárido Brasileiro
Rafael de Abreu e Souza:
Rodinhas de chinelo de borracha ao combate